sábado, 29 de junho de 2013

Não toqueis nos meus ungidos.


Basta alguém questionar a posição doutrinária ou ética de algum líder religioso
para que ele ou seus simpatizantes imediatamente lancem mão desta frase para se defenderem.
Alguém já disse, com sabedoria, que o poder odeia a crítica, e isto é verdade
também no meio evangélico. Ao afirmar isso, não estamos defendendo aqui a crítica barata,
vingativa, mas, sim, a construtiva, feita de acordo com a Palavra de Deus.
Esta expressão “não toqueis nos meus ungidos” aparece duas vezes na Bíblia:
em 1 Crônicas 16.22 e em Salmos 105.15; ambas as referências são a respeito dos patriarcas,
Abraão, Isaque e Jacó. As duas passagens não se referem a um questionamento ético
ou doutrinário do líder, mas a algum perigo para a integridade física de um ungido de Deus.
Observe o que aconteceu com Abraão em Gênesis 20.1-13. Estando em Gerar, mentiu ao rei Abimeleque,
dizendo que Sara não era sua esposa, a fim de se proteger. Impressionado com a beleza de Sara,
Abimeleque mandou buscá-la para fazê-la sua esposa. Deus, porém, avisou o rei em sonho durante a noite,
dizendo-lhe que seria punido se tomasse Sara como esposa, o que o levou a desistir do seu plano.
Embora Abimeleque tivesse sido proibido por Deus de tocar no profeta (v. 7) e ungido do Senhor,
isto é, de causar-lhe algum dano físico, ele não hesitou em repreender Abraão por ter-lhe mentido.
Davi também, quando perseguido por Saul e com oportunidade para matá-lo, limitou-se apenas a
cortar-lhe a orla do manto, explicando com estas palavras o motivo de seu comportamento:
“O SENHOR me guarde de que eu faça tal cousa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a
mão contra ele, pois é o ungido do SENHOR” (1 Sm 24.6). Vemos novamente que o que
estava em questão era a vida de Saul e não sua posição doutrinária.
No Novo Testamento, a unção não é privilégio apenas de alguns, mas de todos os que estão em Cristo.
Na sua primeira epistola universal, João mesmo reconheceu isso ao escrever: “E vós possuís
unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento” (1 Jo 2.20). João acrescenta ainda:
“Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade
de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as cousas,
e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou” (1 Jo 2.27).
É verdade que Jesus disse no Sermão do Monte: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7:1).
Este é um outro texto muito usado de forma seletiva e fora de seu contexto como um escudo contra qualquer tipo de

questionamento. O que Jesus está censurando nesta passagem é o julgamento hipócrita, algo que ele deixa
bem claro nos versículos 3 a 5: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não
reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro
do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então
verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão”. Pode-se constatar que o apóstolo
Paulo tinha o cuidado de obedecer às palavras do Senhor Jesus pela sua exortação aos coríntios:
“Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros,
não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1 Co 9.27).

A Bíblia não proíbe o questionamento, pelo contrário, encoraja-o. Quando chegou a Beréia,
Paulo teve seus ensinos avaliados à luz das Escrituras pelos bereanos. É interessante
que os bereanos não foram censurados nem tidos como carnais porque examinaram os ensinos de Paulo,
mas, sim, foram elogiados e considerados mais nobres que os de Tessalônica (At 17.11).
Observe a atitude de João. Apesar de ser conhecido como o apóstolo do amor e de usar termos
muito amorosos (como “filhinhos”, “amados”), ele não deixou de alertar seus leitores
quanto aos perigos de ensinos e profetas falsos com essas palavras: “Amados, não deis
crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque
muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (1 Jo 4.1).

Extraído do livro “Evangélicos em Crise” do Pr. Paulo Romeiro / CACP *Postado por:Catarina Luiza.

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