sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A Lição da caveira


Um príncipe, orgulhoso de sua realeza,
foi certo dia caçar em lugar montanhoso e afastado.
A certa altura de seu caminho, viu um velho eremita,
sentado diante de sua gruta, e muito atento a considerar
uma caveira que tinha nas mãos. Indignado por não lhe ter
o velho dado a menor atenção, nem sequer levantado os olhos
para a luzida companhia de caçadores, o príncipe
aproximou-se dele e disse-lhe, entre rude e zombeteiro:
- Levanta-te quando por ti passar o teu senhor!
Que podes ver de tão interessante nessa pobre caveira,
que chegas a te abstrair da passagem de um príncipe
de tantos poderosos fidalgos?
O eremita, erguendo para ele os olhos mansos, respondeu,
em voz singularmente clara e sonora: - Perdoa, senhor.
Eu estava procurando descobrir se esta caveira tinha
pertencido a um mendigo ou a um príncipe, mas não
consigo distinguir de quem seja.
Nestes ossos nada há que me diga se a carne que os revestiu
repousou em travesseiros de plumas ou nas pedras das estradas.
Eu não saberia dizer se devia levantar-me ou conservar-me sentado
diante daquele que em vida foi o dono deste crânio anônimo.
O príncipe, cabeça baixa, prosseguiu o seu caminho, mas a
caçada não teve, naquele dia, qualquer encanto para ele.
A lição da caveira abatera-lhe o orgulho.

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