quinta-feira, 29 de novembro de 2012

SIMBAD,O MARUJO........



Sindbad estava sentado, descansando na sua nova casa em Bagdad,
que havia construido recentemente, quando ouviu um pobre carregador
de rua dizer:
- Os homens não recebem a recompensa conforme merecem.
Tenho trabalhado mais do que Sindbad e, no entanto, ele
vive no luxo e eu na miséria.
Comovido com a queixa do carregador de rua, Sindbad convidou-o
para entrar e ouvir a história de suas aventuras.
- Talvez quando souberes o que passei para adquirir minha riqueza,
disse-lhe Sindbad, fique mais contente com a sua sorte.
Repare no meu cabelo branco e minha cara já gasta; até
pareço um velho. Eu era jovem e forte quando embarquei para
tentar fazer minha fortuna em países estranhos. Saiba que,
pouco depois de partirmos, o nosso navio foi apanhado por
uma calmaria numa pequena ilha. Quando desembarcamos para
examinar de perto, descobrimos que aquilo não era terra e
sim o dorso de uma grande baleia. Mal pusemos os pés para
descer e ela começou a sacudir-se e logo mergulhou para o
fundo do mar. Ficamos todos assustados, nos debatendo e procurando
algo para nos salvar do afogamento. Agarrei-me a um grande pedaço
de madeira e a corrente marítima acabou me conduzindo à praia
de uma ilha deserta.
- Já na ilha, imaginei que estaria salvo, mas ao caminhar algumas
léguas fui dar num grupo de arvores frutíferas, entre as quais
estava escondida uma grade bola branca de uns cincoenta pés de tamanho.
Eu já estava muito cansado, por isso, depois de comer alguns frutos,
deitei-me para dormir à sombra da bola branca. Já estava cochilando
quando, ao olhar para o alto, vi que o céu estava escuro pelas
asas de uma ave gigante.
- Céus! exclamei. Esta grande bola branca é o ovo daquela ave monstruosa,
que os marinheiros chamam de Roc.
Em seguida o Roc pousou sobre o ovo, debaixo do qual eu estava,
e uma das suas garras, que era do tamanho do tronco de uma arvore,
prendeu-se em mim.
No dia seguinte, de manhã bem cedo, o Roc levantou voo e levou-me
a tal altura que eu já nem via mais a terra. Depois desceu com tanta
velocidade que por pouco eu não perdi os sentidos. Quando ele passou
perto do chão consegui soltar-me da sua garra, e vi então que estava
num vale muito profundo, cercado de montanhas altíssimas e íngremes
por todos os lados.
- Aquele era o vale dos diamantes! todo o chão estava coberto de
pedras preciosas. Cheio de alegria, comecei encher meus bolsos com
quantas pedras podia. Mas minha alegria durou pouco, pois o vale
estava cheio de serpentes e eu não sabia como sair dali.
Em seguida escondi-me numa caverna e tapei a entrada com um
pedregulho, mas não pude dormir nada devido ao sibilar das serpentes.
De madrugada elas desapareceram, pois tinham medo do Roc, que
costumava ir ao vale em busca de alimento. Então saí da caverna,
mas logo fui derrubado por uma coisa qualquer que vinha aos
trambulhões montanha abaixo. Era um grande pedaço de carne
fresca que, à medida que ia rolando, nele se grudavam os diamantes
que estavam no seu caminho, como se fosse uma bola de neve.
Então olhei para cima e vi que no alto da montanha havia um
grupo de homens que se preparava para atirar outro pedaço de carne.
Eu já tinha houvido falar dessa forma de catar diamantes e
naquele momento me parceu ser também uma boa forma para me salvar.
- Então, atei-me ao pedaço de carne, escondendo-me debaixo dele.
Pouco depois apareceu uma águia que agarrou a carne e levou-me
junto para o alto da montanha. Em seguida, o grupo de homens
afugentou a águia e virou a carne para tirar os diamantes
que nela estavam grudados. Foi assim que me encontraram.
Quando os homens tinham tirado todos os diamantes que queriam,
embarcamos de volta par nosso país. Mas, ao passar pela ilha
deserta, os meus companheiros desembarcaram com um machado
e abriram a grande bola branca. Ouviu-se um grande grito no céu.
Era o Roc que tinha nos visto. Todos desataram a correr em
direção ao navio, mas o Roc nos seguiu segurando nas garras um
grande pedaço de pedra que deixou cair sobre o nosso navio.
Acabamos todos caindo no mar.
Agarrei-me com uma mão num pedaço de madeira do navio e com
a outra fui nadando conforme podia, até que consegui chegar
a uma outra ilha.
- Era um lugar maravilhoso! rios corriam entre os vinhedos
carregados de uva e pomares com diversas espécies de fruta.
Ali encontrei um velho muito esquisito que me fez sinal
para levá-lo às costa na travessia do rio. Mas, mal eu o
coloquei nas costas e ele cruzou as pernas em volta do
meu pescoço, e foi apertando até que desmaiei. Quando
acordei vi que ele ainda estava a cavalo nos meus obros.
Assim ficou todo o dia e a noite, permanecendo até a manhã seguinte.
A partir daquele dia ele me tornou seu escravo.
Quando fiz algum vinho para beber e não perder as forças,
ele o tomou de mim e bebeu tudo. Felizmente o vinho
era forte de mais para ele que então descruzou as pernas
e me soltou no chão. Então, para me livrar dele definitivamente,
eu o matei ali mesmo.
Voltando à praia, encontrei alguns marinheiros que me
trouxeram de volta para Bagdad.
-Mais tarde fiquei sabendo que aquele era o velho
do mar e que eu tinha sido o primeiro a escapar
de ser estrangulado por ele.
- E agora, meu caro amigo, não achas que sou merecedor
da minha fortuna?, disse-lhe Sindbah, dando-lhe um bom e
valioso presente.
E o entregador de rua foi-se embora todo feliz para nunca
mais julgar sem saber a verdade.

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